quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Wanessa se despe







Completando 10 anos de carreira em 2010, a cantora admite que já foi irresponsável com a profissão, diz que adora lingeries para seduzir, pensa em morar fora do Brasil e fala sobre as delícias de estar casada com o homem que deseja
WANESSA ESTÁ DESCABELADA. Nada de penteados anticonvencionais ou qualquer modismo. Na verdade, o cabelo preso num rabo de cavalo displicente combina com a camiseta branca, a calça de moletom cinza, os pés descalços e o ar cansado. São 11 horas da noite da quinta-feira 28, ela está jogada no sofá de sua casa, em Alphaville, em Barueri (SP), com um squeeze com água e busca no controle remoto algo interessante para ver sozinha na televisão, uma vez que o marido, o empresário Marcus Buaiz, está fora, num jantar de negócios. "Mas mal consigo pensar de tão exausta que estou. Hoje, passei nove horas ensaiando. Cantar no mesmo palco de Beyoncé é maravilhoso, mas uma responsabilidade enorme. E dá um frio na barriga. Estou caprichando", diz. A cantora vai abrir os shows da diva americana na quinta-feira 4, em Florianópolis, e no domingo 7, no Rio de Janeiro. A apresentação será um marco na vida da moça, que comemora 10 anos de carreira em 2010. Wanessa começou cantando músicas que, de tão românticas, era impossível não associá-la ao pai, Zezé Di Camargo. Em 2000, ganhava manchetes como uma menina baladeira, que usava cabelos compridos, barriga de fora, botas e entoava versos como "metade de mim te ama e te adora/ outra metade de mim, precisa ir embora". Hoje, aos 27 anos, exibe um estilo com referências de revistas de moda internacionais, comemora dois anos e meio de casamento e canta com o rapper Ja Rule os versos em inglês "Daddy's girl, so careful not to falter/ (you think I've always had it all)/ No matter what you say about me/ (I fought my way up to the top)". Como diz a música, a garotinha do papai proclamou independência e busca seu caminho rumo ao topo. A seguir, Wanessa fala de sua trajetória de vitórias, algumas derrotas e o que planeja para o futuro.
Dreamgirl

"Estou muito feliz por ter sido escolhida para abrir o show da Beyoncé, uma artista que adoro! Porque temos a mesma gravadora, Marcus soube que haveria uma apresentação de abertura, mandou meu material para a equipe dela e fui escolhida. Não teve nenhuma mutreta, como alguns disseram. Passei por uma seleção e me escolheram. É um sonho, um marco na minha carreira, um momento que vai me proporcionar uma visibilidade enorme. Vou mostrar meu trabalho para muita gente, porque sei que nem todo o público ali me conhece. Prometo caprichar: cantar minhas músicas e músicas de Lady Gaga e Shakira, entre outras surpresas."
All The Single Ladies

"Tem uma música da Beyoncé que me marca muito: 'Crazy In Love'. Lembra minha fase de solteira, das baladas com as amigas. Somos um grupo de oito meninas que mantêm amizade desde o colégio. Uma vez por mês, a gente se encontra, normalmente aqui em casa, e sempre termina a noite dançando feito doida na pista, que, na verdade, é a sala de ginástica, em meio à esteira, bicicleta (risos). É um clube da luluzinha mesmo! Normalmente marco esses encontros quando o Marcus vai ao Royal ou se encontra com os amigos dele. Nós dois achamos saudável manter o nosso espaço, nossas amizades. No nosso relacionamento, damos liberdade para o outro, com muito respeito, combinando sempre."

Vida de casada

"O casamento me tornou uma pessoa melhor. Aprendi a dividir, a ser mais tolerante e respeitar mais o outro. Um exemplo bobo do dia a dia: eu não conseguia dormir no escuro. Como Marcus tem sono mais leve que o meu, cedi e hoje não consigo mais dormir de luz acesa. Ele, por sua vez, entende que muitas vezes eu tenho de ficar sozinha no meu canto: lendo, escrevendo, vendo meus filmes antigos, que adoro. Semana passada, por exemplo, quis assistir O Caçula com meu irmão (Igor, o caçula da família). Para mim, amar traz uma liberdade segura. É muito bom ter um homem que desperte seu desejo. É maravilhoso sentir-se satisfeita e também satisfazer. Desejo é fundamental, afinal, não se casa com o melhor amigo, mas com um homem. Mas também é muito bom ter a parceria, estar com o outro para o que der e vier e saber que a recíproca é verdadeira."
Sedução

"Adoro lingerie! Fico mal quando preciso usar aquelas peças grandonas, bege, para não marcar um vestido (risos). Não necessariamente que eu sempre tenha intenções (risos). A lingerie não é para o homem. Acho que nós, mulheres, precisamos entender a importância de ficarmos bonitas para nós mesmas. Antes de seduzir o outro, gosto de me sentir bem. Isso dá uma sensação de estar pronta para tudo (risos)."
Filhos

"Tenho uns sonhos premonitórios. Ultimamente, sonho que tenho dois filhos, um menino e uma menina, que é mais velha, com uns 2 anos de idade. Lembro do rosto dela: tem cabelo preto e eu, toda babona. Mas sei que esse sonho não é para agora. O casamento não muda sua rotina, mas filhos transformam completamente. Para Marcus e eu, é muito importante a família, a de onde viemos e a que estamos construindo. Queremos ter filhos numa fase mais tranquila. Agora, sentimos que ainda estamos em crescimento profissional. Não é o momento."

''Penso em morar em Nova York. Sinto que, infelizmente, para o artista ser reconhecido mundialmente, é preciso morar nos Estados Unidos"

Mutante

"Se pudesse escolher ter aos 17 anos as mesmas referências e a cabeça que tenho hoje... Mas isso é impossível, né? Talvez, antes de começar minha carreira, eu deveria ter traçado um plano, amadurecido mais... Não aconteceu assim e ok! Se hoje algumas pessoas têm preconceito contra mim por conta disso, é o preço que tenho de pagar. O tempo passou e mudei de atitude e o direcionamento da minha carreira. Eu me vejo como uma pessoa em constante transformação. E vou deixar de trilhar, de apostar no que acredito só porque comecei de um jeito? Vou deixar de apostar em mim por causa do 'achismo besta' de quem não me conhece direito? Nem pensar! Quero que as pessoas gostem do meu trabalho, mas detesto preconceito. Eu me permito mudar, sim, e isso é muito natural para mim! Aliás, deveria ser natural para todos."
Medo

"Olho para o medo, tento entender e superar. Tenho medo de coisas palpáveis, como avião e lugares fechados. E estou enfrentando isso porque não há outra forma. De todos os meus temores, o da morte é o pior. Não da minha, mas tenho pavor de não poder mais conviver com pessoas que amo. Também temia ser mal interpretada, de ser vista de uma forma que eu não sou. Depois, percebi que controlar a percepção das pessoas é impossível. Ninguém tem o poder de cortar o telefone sem fio que é a opinião dos outros. Resolvi desencanar. Já me perguntei várias vezes: 'será que vale a pena passar por essa exposição?' E descobri que sim, porque eu amo minha profissão e isso é o preço que se paga. Quando subo no palco, eu me sinto sublime. Tem gente que sente isso com a maternidade, por exemplo. Eu sinto no palco e também quando estou com meu amor, minha família e meus amigos."

No olho do furacão

"Na minha carreira, o que me irrita é sentir, às vezes, que você não tem crédito para falar da sua vida. Disseram que Marcus e eu estávamos nos separando. Mentira! Outra: meu marido e meu pai não estão brigados, nunca estiveram. Ao contrário, eles são amigos. O que Marcus comentou na época é que a gente não gosta de certas pessoas que convivem com meu pai. E ele também não ficou chateado por eu ter tirado o 'Camargo' do meu nome artístico. Meu pai é a pessoa que mais torce por mim nessa minha nova fase profissional."

"Fiz bobagens típicas de adolescente, como sair em noitada antes de um show e acordar de ressaca. Uma cantora não pode se permitir isso! Ainda bem que a ficha caiu a tempo"
Musa gay

"Acho um absurdo os homossexuais não poderem se casar! Acho pavoroso em pleno 2010 a televisão não exibir um beijo gay porque algumas pessoas se sentem incomodadas. Nunca me senti atraída por mulheres, mas já levei cantadas. A última vez foi recente, estava dançando numa boate gay e uma moça veio conversar comigo. Respondi 'obrigada, mas sou casada'. Como falaria e já falei com caras que vieram me cantar. Gente, é tão normal... O amor não tem sexo, não tem cor. O amor simplesmente te arrebata."

Drogas
"Penso sobre a liberação controlada e a descriminalização da maconha. Acho que o governo deveria investir mais em informação, educação e tratamento dos dependentes. Além disso, há outras drogas lícitas tão perigosas quanto, como cigarro e bebida. Porque não adianta: em algum momento da vida você vai ter acesso à droga, a qualquer uma. E se você não tem cabeça boa nessa hora... Na adolescência, essa fase cheia de inseguranças, às vezes você nem está a fim de fazer determinadas coisas, mas quer o respeito da turma. Vi um amigo, um dos caras mais bonitos e populares do colégio, transformar-se completamente, ficar viciado. Tenho pavor de vício, de me ver dependente de algo que tira a minha lucidez, que destrói o meu corpo. Quando tiver meus filhos, quero dar informação a eles, falar abertamente para que possam tomar a decisão certa. Informação, educação são remédios certos contra hipocrisia! Detesto!"

Passado a limpo

"Num determinado ponto da minha carreira, abri brecha para falarem mal de mim. Eu tive deslumbramento com a fama, sim. Fui irresponsável mesmo: achava o máximo estar em capas de revista, fiquei vaidosa, perdi o foco do meu objetivo de vida, que é cantar. Desde os 9 anos meu sonho sempre foi estar no palco. Consegui, veio o sucesso repentino e trouxe uma vaidade boba, uma sensação de jogo ganho. Então, fiz bobagens típicas de adolescente, como sair em noitada antes de um show e acordar de ressaca. Uma cantora não pode se permitir isso! É um desrespeito com o público! Para mim, a fama foi vampiresca: ter a sensação de ser amada pelo País, de todos conhecerem você e não o seu trabalho. É uma ilusão! Há cinco anos, a ficha caiu, senti um vazio imenso e mudei meu rumo. Ainda bem que foi a tempo."


Futuro

"Em 2010, completo 10 anos de carreira, mas sinto como se estivesse começando agora. É um renascimento. Nos meus projetos, quero fazer uma grande turnê, gravar um DVD e fazer mais um musical, ou no cinema ou no teatro. Filmar High School me deu um gosto de 'quero mais'. Tenho vontade também de passar um tempo morando em Nova York para estudar, produzir algo, crescer profissionalmente. Isso não significa abandonar o Brasil, ao contrário. Sou uma cantora pop e isso é uma linguagem mundial. Sinto que, infelizmente, para o artista ser reconhecido mundialmente, é preciso morar nos Estados Unidos. Vide Shakira, Penélope Cruz e tantos exemplos. Mas acho que ainda não chegou a hora. Quero crescer mais no Brasil."

Sonho

"Não projeto um reconhecimento mundial. Tenho vontade de fazer um trabalho, de compor uma música que eu fale: nossa isso é f...! É a música perfeita! Algo como 'Imagine', 'At Last', 'I've got you under my skin', 'É o Amor'. Queria ser autora de algo que ultrapassasse gerações. É pretensioso? Sim, mas é meu sonho e vou seguir batalhando por ele."

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