terça-feira, 17 de maio de 2011

Zezé Di Camargo

Zezé Di Camargo

"Homem não é fiel a vida toda"

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O cantor e compositor sertanejo conta que, por ser artista, pode chegar em casa tarde e sujo de batom, mas não aceita ser traído

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NOVOS TEMPOS
“A música sertaneja sempre foi muito machista,
mas acho que isso está mudando”
, diz Zezé

Era abril de 1991 e os irmãos Zezé Di Camargo e Luciano lançavam seu primeiro disco com a música que marcou a vida até de quem não gosta de sertanejo e ajudou o gênero a transpor as porteiras do interior para todos os cantos e rádios do País. “É o Amor” faz 20 anos, mas resiste, como cabe aos clássicos, aos novos movimentos, como o sertanejo universitário.

Vinte e um discos e 35 milhões de cópias depois, hoje a dupla é uma grande empresa, com negócios que vão da criação de gado até uma locadora de galpões para empresas de logística, passando pela construção civil. “Quero continuar cantando pelo resto da vida, mas por prazer. Chegar aos 80 anos e depender da música para sobreviver não dá”, diz o cantor e compositor de 48 anos, 28 deles ao lado da mulher, Zilu, com quem tem três filhos.

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"Agora sertanejo (na foto, Luan Santana) canta em trio elétrico,
é uma mistura. É ruim para o artista se firmar na carreira"

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"Gosto mais do Marcus (Buaiz) do que a Wanessa. A gente viaja junto,
já fomos para a balada juntos, fiquei travado e o genro cuidando do sogro"



Alguns cantores sertanejos da nova geração têm a idade da sua carreira. Como vê o sertanejo universitário?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Quando surgimos, no final dos anos 80, aquele fenômeno era maior do que esse, mas com menos gente dentro do movimento. Naquela época, tinha especial na Globo de música sertaneja, o Leandro e o Leonardo tinham um programa na Globo, havia umas cinco rádios FM de música sertaneja no Rio. As pessoas têm memória curta, mas o espaço era muito maior. O Nordeste, por exemplo, não entrou com a força toda como antes. É um fenômeno muito regionalizado, mais Centro-Oeste e Sudeste.

ISTOÉ -

Este novo sertanejo tem menos qualidade?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Vai chegar um momento em que vai haver uma peneira e vão ficar os melhores. O próprio público se encarrega disso.

ISTOÉ -

Quem é bom?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Musicalmente, gosto do Victor & Leo, acho que eles são competentes.

ISTOÉ -

Em que o sertanejo universitário difere daquele que vocês fazem?

ZEZÉ DI CAMARGO -

A música é a mesma, mas agora cantam em micareta, em cima de trio elétrico. Misturam axé, sucessos do João Mineiro e Marciano e Milionário e José Rico e até Xuxa, então você fica meio perdido, não sabe se é sertanejo, é uma mistura. Você vai ao show e tem a impressão de que está no Carnaval da Bahia. Isso tudo é bom para divulgar o gênero, mas é ruim para o artista, que não vai conseguir se firmar na carreira.

ISTOÉ -

O sertanejo hoje atinge as classes mais altas?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Isso é complicado responder, porque, desde que nós surgimos, conseguimos entrar em todas as classes sociais. A diferença é que era coisa mais de classe A interiorana, o fazendeiro. Hoje, a meninada da faculdade, filhos desta galera, que tinham vergonha de falar que gostavam, agora assumiram. Então acho que o que mudou foi isso, caíram as máscaras.

ISTOÉ -

Por que existe pouca mulher cantando música sertaneja?

ZEZÉ DI CAMARGO -

A música sertaneja sempre foi muito machista, muito a visão do homem exposta na música, a maneira de ele pensar sobre o amor. A mulher ficou esquecida, mas acho que está mudando. E hoje as mulheres curtem muito mais também. A mulher é mais fácil de agradar neste mundo sertanejo porque ela é mais romântica. Confunde, no bom sentido, a música com o cantor, ela te escuta e pensa que você é daquele jeito, as meninas sonham. Nos shows e nos cruzeiros, a maioria é mulher.

ISTOÉ -

Algum episódio de assédio de fã inesquecível?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Beliscão, na bunda inclusive, várias vezes, unhada também tem muito. Mas uma vez me deu raiva porque doeu muito. Eu estava saindo de um show no interior de São Paulo e os seguranças fechando, protegendo mais por cima, e uma menina veio por baixo e me deu uma pegada, nas partes. Ela encheu a mão e apertou. Eu dei um grito porque doeu demais. Foi muito rápido, não tive nem como xingar.

ISTOÉ -

E como é chegar em casa todo arranhado, rasgado e sujo de batom?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Essa é a vantagem de ser artista, posso chegar a qualquer hora em casa sujo de batom que não tem problema. Só se for na cueca, aí não tem explicação, não tem mesmo.

ISTOÉ -

Como encara a fama de infiel, apesar de estar casado com a mesma mulher há 28 anos?

ZEZÉ DI CAMARGO -

É tudo fofoca. Artista é o seguinte: teco-teco é jatinho, casa é mansão e sítio é fazenda. As pessoas olham e falam: “O cara vive viajando, você acha que ele não pega? Claro que ele pega.”

ISTOÉ -

Nunca foi infiel?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Nunca, isso é uma condição que nunca existiu na minha vida. Agora, gente, quando falo neste assunto, é muito hipocrisia. Não quero desiludir as mulheres aqui, mas homem fiel Deus vai ter que fazer por encomenda para alguma mulher.

ISTOÉ -

Mas você está se contradizendo.

ZEZÉ DI CAMARGO -

Como assim? O espírito do homem não é ser fiel, ele tem momentos de fidelidade, ele decide se nesse momento aqui vale a pena ser fiel. Na essência, o homem não é fiel a vida toda.

ISTOÉ -

Você aceitaria uma traição?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Nem f... Da mulher que eu gosto, não aceito traição e não acho que ela tenha que aceitar a minha. Pelo contrário. Se aceita é porque não gosta tanto, porque quem gosta não aceita. Mas eu tenho uma visão sobre traição. Por exemplo, se a mulher nunca traiu, mas desejou alguém, então já traiu, o desejo para mim já e uma traição.

ISTOÉ -

A que atribui a longevidade do seu casamento?

ZEZÉ DI CAMARGO -

A Zilu soube contornar todas as adversidades, é uma mulher muito inteligente. A gente tem uma vida assim: ela tem a dela e eu tenho a minha. Agora ela está lá em Miami. A gente não vive grudado, senão não tem jeito, não há relação que suporte isso.

ISTOÉ -

Que peso tem o sexo em um relacionamento?

ZEZÉ DI CAMARGO -

É fundamental, você pode ter um relacionamento sem amor, mas não sem sexo. Mas claro que tem que respeitar alguns momentos. Quando não existe mais atração homem/mulher, passa a existir mais o companheirismo, amizade, mas isso depende do período da vida. Se é um casal jovem com desinteresse sexual, acabou, cada um tem de ir para um lado, porque tem uma vida pela frente.

ISTOÉ -

Já tomou Viagra?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Ainda não, mas se precisar eu tomo. Tem que usar todos os artifícios para fazer bem para a gente, porque ninguém é super-homem para dizer “nunca tomei nem nunca vou tomar”, não tem essa.

ISTOÉ -

Você apoiou o ex-presidente Lula. Como avalia o governo Dilma?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Acho que ela vai fazer um bom governo, é uma mulher muito centrada, já tinha experiência administrativa porque estava o tempo todo por trás do governo Lula, eu confio muito. Existe ainda muita coisa errada, a gente viaja o Brasil todo e sabe que tem muita coisa para ser feita.

ISTOÉ -

Ficou chateado quando sua filha Wanessa decidiu tirar o Camargo do nome artístico?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Claro que não. Quando a Wanessa foi gravar outro tipo de música, a primeira coisa que falei foi que ela tinha de se desvincular do Zezé Di Camargo. Eu dei a ideia de tirar o Camargo.

ISTOÉ -

O que há de real nos rumores de separação da Wanessa do empresário Marcus Buaiz?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Eles estão mais casados do que nunca. Se ela se separar do Marcus um dia vai ser complicado, porque gosto mais dele do que ela, sou apaixonado por ele, amo, adoro. Já falei para ele que ele pode deixar de ser marido da minha filha, mas não vai deixar de ser meu genro, não. A gente viaja junto, já fomos para a balada juntos, fiquei travado e o genro cuidando do sogro. O sentimento que tenho por ele é de filho, total.

ISTOÉ -

Já superou o problema que teve em suas cordas vocais?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Tirei um cisto congênito. Foi uma loucura. Os médicos falaram que era cisto, mas para mim era mais psicológico, porque nasceu comigo e nunca tinha atrapalhado. Mas, enfim, esse é um assunto que eu exorcizei completamente. Foi cansaço e eu comecei a usar a voz errado, fiquei nervoso e isso interfere muito. É ficar nervoso que interfere na corda vocal.

ISTOÉ -

É vaidoso?

ZEZÉ DI CAMARGO -

A única vaidade que tenho é fazer ginástica e as unhas. Nunca fiz lipo, nunca pintei cabelo, nada. Não tenho cabelo branco, só alguns. Faço musculação em casa, tenho uma academiazinha lá. Quando não faço, fico desorientado. Já fiz de madrugada, no hotel, levo peso, faço na cama, boto cadeiras, dou um jeito. Dieta não faço, como o que dá na cabeça. Chego em casa às 3h ou 4h, faço um pratão de comida, tranquilo. Faço ginástica para isso, para poder comer.

ISTOÉ -

Tem personal stylist?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Eu consulto as minhas filhas. Elas me dão umas dicas e agora já sei o básico para não cometer falhas, tipo colocar uma camisa cheia de informação e uma calça também toda rasgada. Eu tinha aquela coisa de gostar de um monte de pulseira e corrente de ouro, hoje eu não uso nada disso. Houve uma época em que eu achava que tudo tinha de ser Versace, mas sempre tinha que arrumar e ficava horroroso.

ISTOÉ -

O que sobrou do menino que quase passou fome em Goiás?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Parece hipocrisia, mas sobrou tudo. Sou aquilo, quem me conhece sabe exatamente do que estou falando. Adoro fazer as mesmas coisas que fazia naquela época, conviver com o mesmo tipo de pessoa. Meu passatempo favorito é ir para a fazenda, ficar lá, conversar com os peões, comer arroz de carreteiro na beira do rio, tocar minha sanfona, ir pescar. Infelizmente, não consigo ir com muita frequência. Mas me faz bem conversar com meu pai e minha mãe, ficar sabendo das pessoas, dos meus tios, ficar lembrando do passado, não consigo ficar sem isso.

ISTOÉ -

Do que se arrepende?

ZEZÉ DI CAMARGO -

Queria ter curtido mais meu irmão, aquele que perdi, o Emival. Mas como eu ia imaginar que iria perder meu irmão com 11 anos? A gente começou a cantar junto, o Camargo e o Camarguinho. Lembro muito dele, mais quando estou sozinho. A gente brigava muito, aí fico pensando que, se soubesse disso, não teria brigado com ele nenhuma vez. O vínculo não acaba nunca. Às vezes estou com o Luciano e tenho a sensação de que já passei aquilo com o Emival.